A colecção permanente de pintura do museu encontra-se exposta no segundo andar e toma como base três personalidades destacadas da colecção de arte da Câmara de Matosinhos : António Carneiro, Agostinho Salgado, e Augusto Gomes. Tratando-se também de três figuras ligadas a Matosinhos e Leça, por nascimento, no caso dos dois últimos, ou por afinidades cultivadas em contactos intelectuais e sociais, mais marcantes numa dada fase da carreira do primeiro, a obra destes artistas envolve três leituras diversas do mar, da terra mais interior e das gentes de Matosinhos.
Temperada por um naturalismo que em nenhum dos casos é ortodoxo, a produção destes pintores apresentada no Museu da Quinta de Santiago, convoca ora um simbolismo tímido e marginal de paisagens brumosas (António Carneiro), ora uma dissolução poética de memórias permanentemente actualizadas (Agostinho Salgado), ora uma força plástica e um vigor datados, de homenagem popular (Augusto Gomes).
Vista da Sala António Carneiro [esquerda] e Vista da Sala Augusto Gomes [direita]
António Carneiro
Pintor, professor da Escola de Belas-Artes do Porto, director artístico da Revista "Águia", ligado ao movimento da "Renascença Portuguesa", António Teixeira Carneiro foi uma notável figura da cultura nortenha. Nasceu em Amarante em 1872 e veio a falecer no Porto em 1930. Foi discípulo de Soares dos Reis e de Marques de oliveira na Academia Portuense de Belas-Artes. Em Paris, frequentou a Academia Julien. Participou na decoração da Exposição Universal de 1900. Nesta época realizou o tríptico "A vida - esperança, amor, saudade (1899-1901), em que está já patente a vertente poético-simbolista que caracterizaria a sua atitude plástica. Viajou frequentemente, tendo feito em 1914 a sua primeira viagem ao Brasil, expondo em S. Paulo e no Rio de Janeiro.
Retratista reconhecido e muito solicitado, interessou-se igualmente pela paisagem, tendo pintado dezenas de marinhas de Leça da Palmeira. No Museu da Quinta de Santiago é possível ver, na Sala dedicada a António Carneiro, algumas destas marinhas que aparecem invariavelmente envoltas em bruma, com figuras esbatidas que remetem para o silêncio intemporal das paragens.
António Carneiro: Capela da Boa Nova, 1911 [esquerda] e Retrato de Augusto Ribeiro, 1913 [direita]
Agostinho Salgado
Agostinho Salgado nasceu na freguesia de Leça da Palmeira a 21 de Julho de 1905 e faleceu no mesmo local em 25 de Abril de 1967. Diplomado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, foi professor do Ensino Técnico e conservador do Museu Nacional de Soares dos Reis a partir da década de 40.
Manuel de Figueiredo descreveu-o da seguinte forma:
“Agostinho Salgado nasceu artista e trazia consigo o próprio destino, aquela força impulsionadora e dominadora que traça o caminho de uma vida... A "poesia" dos quadros de Agostinho Salgado está, justamente, na "musicalidade" dos tons da sua paleta, tons frios, cínzeos, em surdina, que se diluem em penumbras; tons quentes, doirados, que se esbatem na distância: fluídos nas policromias que os envolvem”.
Agostinho Salgado foi essencialmente um pintor naturalista que retratou inúmeras paisagens e cenas do quotidiano da época. Na Sala Agostinho Salgado do museu podemos verificar as várias telas do pintor que retratam sobretudo as paisagens leceiras.
Agostinho Salgado: Casa do Baltasar-Leça, 1935 [esquerda] e Casas de Matosinhos, 1948 [direita]
Augusto Gomes
Augusto Gomes nasceu em Matosinhos a 12 de Julho de 1910 e morreu na sua terra natal em 1976. Formou-se em pintura na Escola de Belas-Artes do Porto com a classificação final de vinte valores. Foi professor em algumas escolas industriais e na Escola de Belas-Artes do Porto, tendo, em 1957, entrado como Assistente e mais tarde, em 1962, sido nomeado professor após concurso. A fase inicial da sua obra, nos anos 30, foi profundamente marcada pela tendência naturalista vigente, enformada pela estética pós-impressionista de Paul Cézanne e de Van Gogh. A partir dos anos 50, desenvolve uma aproximação ao neo-realismo, uma tendência artística que conhecia então grande aceitação.
A pintura de Augusto Gomes identifica-se como uma iconografia do quotidiano, na qual o recurso à simplificação das formas é prática corrente. O dia-a-dia do povo, particularmente das mulheres da sua terra natal, dos pescadores e as paisagens de Matosinhos, são encenados dramaticamente em pinturas onde predominam cores surdas e texturas rudes. Aliás, estas temáticas são as que podem ser vislumbradas neste museu, na sala dedicada ao artista.
Augusto Gomes: Gente do Mar [esquerda] e Família [direita]
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